terça-feira, 26 de outubro de 2010

O CIRCO



O circo é como o mundo
Repleto de espetáculos: alguns inéditos, outros interessantes e outros trágicos.
Ninguém controla o desenrolar das cenas.
E eu?
Estou sempre a dançar as várias músicas que a vida me impõe ou que às vezes também escolho. Passos de dança que nem sempre o público entende. Mas eu não danço para o público, danço para o meu Deus e me equilibro no trapézio dos problemas, no balanço das angústias.
Muito prazer!
Sou a bailarina trapezista!
Posso ser interessante e muita gente me conhece.
Será que me conhecem mesmo?
Comigo as pessoas riem, choram, se deslumbram com as emoções que eu provoco. Às vezes tenho medo, angústia, porque viver nos trapézios da vida dá muito medo, é se expor demais, correr risco. Sempre tem um público que não gosta da gente, que prefere a segurança de ficar escondido atrás de desculpas e comodismo, do que subir no trapézio e arriscar.
E eu arrisco por amar o palhaço “Poetinha”.
O Palhaço “Poetinha” tem sempre um verso, uma poesia e uma pintura no rosto para seu público. Ele fala o que as mulheres querem ouvir e não consegue dizer o que, como homem, deseja.
Gosto de olhar nos olhos dele e vejo o que ele não consegue dizer. Ele é tão grande, tão criativo e se vê tão pequeno. O palhaço “Poetinha” no fundo é um menino grande que precisa perder o medo de ser abandonado, de ser rejeitado, de ser rebaixado; tirar a pintura do rosto, olhar-se no espelho e ver que qualidade de homem ele é.
Eu estendo a mão para ele, convido-o para subir no trapézio, para estar comigo, para se permitir ser amado por uma mulher real... Eu também tenho medo, talvez seja mais louca do que ele, mas o convido para viver, para arriscar esta dança.
O Palhaço “Poetinha” sorri... Ameaça ir... Quer ir... Deseja descobrir o seu sentido... Mas tem medo de me olhar de cara lavada.
Dá uma pirueta, faz uma poesia e se encolhe. Uma lágrima escorre do seu olho e ele disfarça, afinal, homem não chora...Assim que todos dizem.
Mas o Palhaço “Poetinha” quer amar e ser amado, quer andar de mãos dadas com sua bailarina, quer aprender a se movimentar no trapézio.... Mas não quer se machucar ...
Pobre Palhaço Poetinha,acha que ninguém nota sua tristeza, mas do trapézio eu o observo e também choro. Eu quero que ele arrisque, eu quero que ele se dê uma chance e me dê uma chance, quero dançar com ele...
As bailarinas e os Palhaços são casais interessantes e sempre cruzamos com um destes ou nos reconhecemos neles.
Elas são graciosas, delicadas, mas o balé as deixaram fortes e disciplinadas. São meninas na sensibilidade, mas mulheres trabalhadoras no espetáculo de se manterem vivas.
As bailarinas não são viventes, são sobreviventes no mundo, por que se moldam nas danças dos problemas e se forjam na luta diária quando a cortina desce.
Os Palhaços são engraçados, inteligentes e carismáticos. Sempre com uma piada para alegrar a vida do próximo. Pensam mais no outro do que em si mesmos. São meninos que brincam com a alegria, mas convivem com a tristeza por baixo da máscara. E quando Palhaço e bailarina se encontram, eles não se apaixonam, eles se reconhecem, porque são parecidos, são feitos do mesmo material: a teimosia. Teimam em acreditar na esperança da luz, quando o mundo só lhes dá noite escura...
Este casal dá certo porque não fazem planos de viver feliz pra sempre, porque não são príncipe encantado e princesa do castelo, são companheiros que se apóiam nos espetáculos da vida, que se amam e que se entreolham com cumplicidade... Porque um dia já mendigaram amor, já sofreram por quem os chutou. Não são jovens, são sonhadores... São sobreviventes do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário