segunda-feira, 8 de novembro de 2010

UM AMOR SEM IGUAL

Esta é uma daquelas estórias em que a gente se pergunta: como foi que este amor começou? Como ela não parou enquanto era tempo? Como ela não viu que não ia dar certo? Como foi se apaixonar justamente por ele?
Mas aconteceu, nem ela soube explicar como se envolveu, nem ele soube dizer algo que justificasse sua rejeição.
Mas aconteceu.
A água se apaixonou pelo fogo.
Mas o fogo... Ele nem reparou nisto.
Tudo começou no dia em que a água perambulava pelos matos, circulando árvores, descendo em pequenos penhascos e se chamando cachoeira, com sua corrida alegre que chamam de correnteza. Ela também é chamada de maré pelos amigos. Ela carrega a vida aquática, é vaidosa, por isto brilha aos raios do sol. Ele a namora com os olhos há muito tempo, mas ela ainda não está pronta para vê-lo. Sente seu calor protetor e se faz bonita ao pôr do sol.
Sua amiga, a lua, sempre lhe chama sua atenção para a realidade, para deixar de ser tão sonhadora e a esfria para se dar conta de que a vida não é brincadeira. E é nas noites de luar que a água se faz realística e gelada.
Mas um casal sempre a visita: o vento e a chuva. Quando eles aparecem, gostam de vê-la em movimento, apreciam sua dança. Às vezes, juntos fazem uma dança suave, às vezes botam pra quebrar e dançam a tempestade.
A vida da água estava em paz quando ele chegou. E chegou como um raio a cair em seu leito e aquela descarga elétrica fez com que a água acordasse para as emoções, mas dormisse para a razão.
Ela passou a desejá-lo. E ele? Ele a achou engraçada e fez dela seu brinquedo.
Quando estava entediado, se aproximava para aquecê-la, para vê-la sofrer por estar perto.
Mas ele sabia que jamais ficariam juntos. Pois são de natureza diferente. Ele se apaga perto dela e no fundo, ela lhe dava medo. A água tinha uma força que o fogo nunca entendeu. Ele só tinha esta força quando achava os materiais certos para entrar em combustão. A força dele dependia do externo. A força dela vinha de dentro. Ela simplesmente era a água, com beleza própria.
Mas para esconder seu medo o fogo brincava com os sentimentos dela.
Quando a dor da rejeição era muito grande, a água se recolhia, se afundava nela mesma.
Até que um dia houve um grande incêndio na floresta e ela o viu na sua forma mais poderosa a consumir todas as árvores ao seu redor. Era uma agressividade da qual ela se deu conta de que não era só para ela, amar para ele era consumir, destruir, queimar.
Foi então que ela percebeu que precisava continuar, seguir seu fluxo, sua correnteza e deixa-lo para trás. Pois sua forma de ver o mundo era diferente da dele.
Hoje, mesmo quando com os materiais certos o fogo possa aparecer sobre a água, ela não mais se ilude. Ainda sente amor por ele sim. Talvez sempre sentirá, mas aprendeu a renunciar. Aprendeu que há coisas que não vamos ter, não por não merecer, apenas por sermos diferentes, incompatíveis.
E a água e o fogo eram de natureza diferente.
Mas ela sempre o amaria, mesmo ele jamais entendendo a essência do seu amor, mesmo ele não sabendo retribuir.
Hoje, a água se volta para o sol e vem dando uma chance para ele. Ele também é feito de fogo, mas está numa distância mais saudável. Ela descobriu que para ser amada, precisa saber ajustar os limites, as distâncias necessárias para a auto estima se desenvolver.
Hoje ela sabe amar, pois, acima de tudo, aprendeu a ver o seu valor, aprendeu a se olhar não pelos olhos do fogo que não a ama, mas pelos olhos de quem dela sente sede.


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